«Caro leitor, as suas mãos suportam, neste momento, o peso de mais de mil palavras marcadas por milhões de passos de uma vida real em constante sofrimento, pintadas, aqui e acolá, com cores alegres, sobressaindo a cor da fé, da coragem e do amor e, em destaque, o tom do amor divino. Consegui pintar, nesta tela gigante da vida, a história verídica de uma mulher de coragem, que, abraçada ao seu único amor, conseguiu criar e educar o seu filho, recebendo nos momentos mais difíceis da sua vida a proteção que pedia, humildemente, a Nosso Senhor Jesus Cristo.
Sinto-me feliz por ter conseguido trocar os pincéis por uma pena e com ela escrever palavras, muitas palavras, cada uma com a sua cor, conforme a minha ou a sua imaginação, e poder transmitir a si, caro leitor, as cores verdadeiras que a vida ofereceu a uma peregrina de Nossa Senhora de Fátima. As cores que utilizei para escrever este livro são aquelas que expressam a alegria e a tristeza, a esperança e a desventura, o amor e a fé católica, e que invadiram todos os vasos sanguíneos do corpo da Leonida, acabando filtradas pelo suor que ela foi derramando do seu rosto, pintando com ele todos os caminhos que percorreu até chegar à Cova da Iria - Fátima.
Por força do destino, a peregrina Leonida teve ascendência materna galega, em virtude da enxurrada de galegos que, a partir do ano de 1830 e até 1860, inundaram campos e cidades do Minho e Trás-os-Montes e se espalharam um pouco por todo o território nacional até Lisboa, à procura de trabalho, porque a fome, quando aperta, não conhece regiões, fronteiras, línguas ou nações. Abençoadas forças braçais dos homens transmontanos e galegos, que, em conjunto, souberam dar vida a morros e montanhas, rasgando nas suas entranhas, do sopé ao cume, socalcos para plantação de vinhedos, que transformaram Trás-os-Montes e Alto Douro na região vinhateira mais antiga do mundo e Património da UNESCO.»