A partir de um mapa topográfico existente no Instituto Geográfico Português, mandado levantar, por ordem de D. Maria I, em 1791, com o fim de determinar o percurso da Estrada Real desde a serra de Rio Maior a Leiria, ensaia-se um estudo alargado que se detém sobre os elementos concretos do mapa, do traçado à toponímia, mas muito especialmente sobre os seus autores porque, à excepção de um dos oficiais que o elaboraram, todos os outros têm ligações com Leiria. O extenso mapa de 2,38 m, a todos os títulos precioso, não só apresenta a orografia como indica as povoações e as propriedades particulares que, ao tempo, se encontravam de um e outro lado da nova estrada. Desde a antiguidade foram sendo usados cinco percursos diferentes entre Rio Maior e Leiria pelo que o delineamento da Estrada Real entre estes dois pontos, nos finais do século XVIII, obrigou a uma escolha, que teve razões, mas também consequências, técnicas, económicas e sociais.
Procurava-se, naquele tempo, ir para além da simples justificação de que era importante ter uma determinada estrada para que a Corte se pudesse comodamente deslocar – foi o "bem público" que passou a ser o motor dos projectos rodoviários. De forma a enriquecer a apresentação do mapa, o Autor cotejou a informação nele constante com aquela que estrangeiros, que nos visitaram na mesma altura, publicaram, transcrevendo alguns excertos daqueles relatos sobre povoações, ou monumentos, ou de simples aspectos curiosos. O livro apresenta algumas curiosidades como o perfil de José de Seabra da Silva, mencionando as vezes em que ele caiu em desgraça, bem como o do importante desembargador Mascarenhas Neto. Apresenta igualmente o “Alvará” de 1791 de D. Maria I regulamentando a construção das estradas, bem como o regulamento para a reforma dos carros, estabelecimento de barreiras e conservação das estradas, da mesma época. Não só são curiosas as considerações sobre as estalagens daquele tempo, mas igualmente a explicação do nascimento da “calçada à portuguesa”. O livro tem inúmeras gravuras e mapas a cores e a preto e branco, apresentando, referidas a 1791, as primeiras plantas de povoações como a Batalha, Évora de Alcobaça, Aljubarrota, Turquel, Benedita e Leiria.
Lateralmente, o trabalho é enriquecido com abordagens monográficas, designadamente sobre como se viajava e onde se pernoitava nos séculos XVIII e XIX, mas muito particularmente e em profundidade com estudos genealógicos no âmbito das descendências, do oficial alemão Konrad Heinrich von Niemeyer, que fez o levantamento do percurso, e do seu cunhado Johann Caspar Giffenig, que tem ainda hoje descendência em Leiria (os Costa Guerra e os Santa-Rita, por exemplo), e que vieram para Portugal por recomendação do conde Schaumburg-Lipe. Pela sua profundidade e abrangência, este estudo faz história na região Centro do País.