No silêncio e quase segredo de sua Itabuna bem-amada, o poeta Cyro de Mattos - um baiano que não emigrou, e ficou desde sempre grudado ao ar, ao mar, aos azuis e verdes do céu e da terra, as águas do seu rio, às gentes e bichos e casas do horizonte natal - sustenta uma das vozes mais nítidas e singulares de sua geração.
A respiração do amor - tão presente nestes Vinte e um poemas de amor - rege os seus versos ora como uma confidência ora como uma palavra alta. Essa modulação constitui o atrativo fundamental de sua poesia. É a música de uma maré que avança e se torna vazante, o rumor de uma terra habitada pela esperança e perplexidade dos homens, a radiosa claridade de um dia que haverá de transformar-se em noite.
Escuto a voz poética de Cyro de Mattos desde o instante inicial de sua elevação. Paro sempre para escutá-la.
Ledo Ivo
Poeta, contista, romancista, cronista e ensaísta. Da Academia Brasileira de Letras.
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Ter coragem de falar de amor numa época em que o assunto parece um pouco fora de moda já justifica a publicação deste livro. Cada vez mais os relacionamentos surgem como passageiros e se corre o risco de perder aquilo que existe de mais ardoroso e lírico nos sentimentos: o desejo de construir um futuro em comum. Não se trata, é claro, de negar a sexualidade. Ela se faz presente ao longo dos 21 poemas do livro e nas imagens de Edsoleda Santos. Existem ondas do fluir da vida e dos corpos, assim como gemidos e vontades expressos por toda parte no diálogo que os corpos travam entre eles e com o mundo. A respiração ofegante que conduz a leitura se cristaliza de maneira muito especial em duas expressões que surgem na poesia de Cyro de Mattos: "amor além do mar" e "na pele do tempo". São dois paradigmas de um pensar romântico da existência marcado pela capacidade de oferecer visões renovadas da vida. O amor proposto está além dos movimentos do mar. Ele se concebe no fluir da vida, como força cósmica que está além dos limites do desconhecido. É na epiderme do passar dos minutos que o "ficar" se torna a coragem do "amar" e vivenciar um amor une sensualidade e sexo na construção de um universo que esperamos ser sempre melhor.
Oscar D’Ambrosio - doutorando em Educação, Arte e História da Cultura na Universidade de Mackenzie, São Paulo, mestre em Artes Visuais pela UNESP, membro da Associação Internacional de Críticos de Arte, Seção Brasil.
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Encontro a densidade amorosa/erótica nesses fantásticos Vinte e Um Poemas de Amor! Li-os e reli-os... fizeram-me voltar no tempo... Essa é a magia da palavra criada pelo Poeta Maior: eternizar no Verbo aquilo que é "lampejo" existencial, paixão indizível, que só a Poesia pode reviver e perdurar no tempo.
Nelly Novaes Coelho - Doutora em Letras, Livre Docente e Professora Titular da FFLCH/Universidade de São Paulo.