Este livro propõe pistas de reflexão sobre a intensa cobertura jornalística do referendo de 1999 em que os timorenses votaram pela independência, bem como sobre os contornos que assumiu, particularmente na fase de maior violência. Timor-Leste tornou-se um "monotema" da informação nos media portugueses, quase eclipsando a outra actualidade e contaminando, ou até ocultando, a campanha para as eleições legislativas em Portugal. Timor ofereceu aos "media" uma oportunidade de identificação com um sentir colectivo, o que ajuda a compreender que o fluxo jornalístico se tenha alimentado não apenas de ocorrências, mas também de iniciativas do próprio campo mediático - o apelo a que os cidadãos se vestissem de branco foi talvez o exemplo mais visível. Esta constatação leva a admitir que, em quadros de consenso, os "media" possam não apenas dizer-nos "sobre o que pensar" e "como pensar", mas propor-nos "o que fazer" e "como agir", o que remete para uma reflexão, também aqui ensaiada, sobre a natureza do seu poder.