Plano Nacional de Leitura
Livro recomendado para o 3º ano de escolaridade, destinado a leitura autónoma.
Este conto popular tem sido objeto de inúmeras versões. Um amplo leque de interpretações que não se reduz à educativa de Charles Perrault ou à adocicada dos irmãos Grimm. Assim, figuras de prestígio da literatura infanto-juvenil como Roald Dahl ou Gianni Rodari revisitaram do humor à ironia este clássico para vestir de amarelo o Capuchinho ou muni-lo de uma arma para conseguir um casaco quentinho de pele de lobo.
Com As luvas do Capuchinho, a OQO editora também apresenta uma reinterpretação divertida e original deste clássico. Tanto o texto de Inés Almagro como as imagens de Mikel Mardones jogam com uma dupla cumplicidade: a do leitor e a da protagonista. Pressupõe-se que ambos são conhecedores do desenrolar da versão popular mais estendida.
O facto de a história não decorrer como convencionalmente é conhecida ou como o Capuchinho a protagonizou reiteradas vezes surpreende o leitor e desconcerta a protagonista. — Que estranho! - disse o Capuchinho enquanto punha o seu capuz. Na minha história nunca neva!
Inés Almagro coloca a protagonista ao lado do leitor, que pergunta o mesmo que a menina perante o inédito dos acontecimentos e o inusitado comportamento das personagens: — Que estranho! - disse. O lobo nunca se esquece de me vir assustar!
A originalidade da versão do Capuchinho com que Inés Almagro debuta na OQO editora é reforçada com o trabalho de Mikel Mardones. Em primeiro lugar, o ilustrador basco (La higuera de Pelostuertos) quebra o arquétipo físico de uma menina de tranças loiras e de cara doce que faz parte do imaginário coletivo; e introduz extravagantes e divertidas personagens: um mocho, um porco…
Estes singulares companheiros de viagem do Capuchinho não estão presentes noutras versões nem no texto de Inés Almagro, pelo que o ilustrador enriquece a galeria de personagens (limitadas ao lobo, ao caçador e à avó) e oferece uma história paralela que convida a novas leituras.
Mardones define-os como "observadores curiosos" que não interrompem a caminhada da menina até à casa da avó. "O percurso que o Capuchinho faz é um solilóquio quase ininterrupto até ao final. Por isso, os lugares por onde caminha deviam ter protagonismo e personalidade". "Uma proposta (das muitas possíveis) que me pareceu interessante pelo colorido e para não criar uma atmosfera demasiado densa" acrescenta.
Tal como no seu primeiro trabalho para a OQO, as suas ilustrações ganham vida originariamente em carvão. E imediatamente com o pigmento bastante fluido sustenta a forma e o volume. Finalmente, aplica pintura mais espessa, evitando os retoques, "apesar de serem sempre necessários", como as versões dos contos clássicos.