Com o advento do betão armado e, sobretudo, da pré-fabricação de vigotas pré-esforçadas para pavimentos ligeiros, a madeira, material tradicional na construção de pavimentos e coberturas até ao início do século XX, quase deixou de ser utilizada como material estrutural em Portugal. Esse abandono foi acompanhado da perda de conhecimento das características do material pelos técnicos envolvidos em projecto. Assim, no limite, a madeira caiu em desuso porque, pura e simplesmente, a generalidade dos engenheiros deixou de saber dimensionar com esse material. A falta de regulamentação e normalização técnicas para estruturas de madeira e a inexistência de uma indústria nacional relevante, nesse domínio particular, mais contribuíram para esse estado de coisas.
O lançamento do programa dos Eurocódigos Estruturais, no final dos anos 80, e a visibilidade conferida por algumas grandes realizações - nomeadamente o Pavilhão da Utopia (hoje Atlântico) na Expo 98 - fizeram renascer o interesse por este nobre material e a apetência pela sua utilização em estruturas, pelo que urge proporcionar à comunidade técnica a informação necessária para esse efeito.
Este livro surge com esse objectivo e, sendo o primeiro do seu género editado em Portugal, privilegia o estudo do material numa perspectiva mecânica, mais do interesse da engenharia de estruturas, em detrimento de outros aspectos menos relevantes para esse fim, como o comportamento térmico e acústico, a durabilidade, a reacção e resistência ao fogo e as características químicas e biológicas. Espera-se que estes aspectos venham a ser objecto de uma obra de continuidade, no futuro.
Índice Resumido
Os Capítulos 1, 2 e 3 enquadram a problemática do projecto de estruturas de madeira, destacando as suas especificidades e a metodologia de verificação da segurança e lançando uma visão sobre o comportamento mecânico da madeira maciça e dos principais derivados estruturais de madeira.
Nos Capítulos 4 a 7 são apresentadas as regras de dimensionamento orgânico para esforços simples e combinados: esforço axial, flexão simples e composta plana e desviada, bambeamento, corte, torção e encurvadura.
O Capítulo 8 apresenta a metodologia de análise e dimensionamento para vigas curvas e/ou pendente, com ou sem extradorso em cume. Além da sua grande dimensão, estes elementos são de utilização frequente em coberturas de madeira, o que justifica uma abordagem específica.
O Capítulo 9 é dedicado ao estudo dos estados-limite de utilização, enfatizando-se os aspectos relacionados com o cálculo de deformações, frequentemente dimensionantes nestas estruturas.
O cálculo de ligações constitui o aspecto mais complexo do projecto de estruturas de madeira, justificando que lhe sejam dedicados os Capítulos 10, 11 e 12. O primeiro apresenta os aspectos gerais do projecto de ligações mecânicas, fazendo a descrição e enumeração dos principais tipos de elementos de ligação. O Capítulo 11 discute a teoria de Johansen, fundamental no dimensionamento de ligadores de tipo cavilha, utilizados na construção estrutural de grande envergadura. No Capítulo 12 são apresentadas as regras de dimensionamento para ligações entalhadas e ligações resistentes a momentos.
O Capítulo 13 apresenta sumariamente alguns exemplos de projecto de estruturas de madeira e o Capítulo 14 fecha a obra, ilustrando uma diversidade de realizações, que demonstram a versatilidade deste material.