A presente obra pretende ser um contributo para a história da emigração política do século XX, através do estudo do caso português, inserindo-se no contexto europeu de oposição aos regimes fascistas e autoritários do entre-guerras.
A revolta de Fevereiro de 1927 marca o início de um longo movimento de exílio ao qual só a revolução de 25 de Abril de 1974 porá termo. A elite política afastada do poder pelo 28 de Maio exila-se, num primeiro momento, em França, dando lugar ao período francês que decorre até 1931.
A actividade dos exilados é então dominada pela preparação do movimento militar, a revolução, que poria termo à ditadura e restauraria a República.
Porém, as clivagens ideológicas e de projecto político entre o republicanismo liberal e o democrático condicionam o sucesso da oposição e da frente comum republicana contra a ditadura, que os exilados procuram incessantemente promover.
O núcleo francês esvazia-se com a implantação da II República espanhola, em Abril de 1931, abrindo-se uma nova fase no exílio político português, cujo assento geográfico é doravante a Espanha republicana.
A raia transforma-se num espaço privilegiado de conspiração revolucionária e de refluxo dos implicados nas revoltas republicanas de Abril e Agosto de 1931 ou nos preparativos insurreccionais abortados pela polícia. Com o reacender da luta sindical, no início dos anos 30, anarquistas e alguns comunistas refugiam-se igualmente em Espanha. A prioridade da corrente republicana continuará a ser dada desesperadamente à revolução, mas a capacidade de mobilização é cada vez mais reduzida, nomeadamente no seio das Forças Armadas.
Por sua vez, os anarquistas procuram ser um instrumento de apoio ao movimento clandestino em Portugal e o seu porta-voz no exterior, enquanto que o reduzido núcleo comunista tenta implantar-se no seio da emigração económica portuguesa. Cenário que só sofrerá alterações com o desencadear da Guerra de Espanha, em Julho de 1936. Os republicanos são, entre 1927 e 1940, em termos numéricos, o grupo melhor representado no exílio, situando-se depois os anarquistas e, por fim, os comunistas.
Quadro que reproduz, no exterior, a situação verificada no interior de Portugal. Após a II Guerra Mundial, a oposição sofre transformações importantes: os anarquistas desaparecem praticamente do xadrez político; os republicanos perdem a hegemonia; e os comunistas, mais bem organizados e adaptados às exigências da luta clandestina, reforçam a sua posição.
Uma outra diferença significativa entre os dois períodos é o aparecimento, nos finais dos anos 60 e nos inícios dos anos 70, de novos grupos oposicionistas, em particular de extrema esquerda que, no exílio, adquirem alguma expressão.
Por outro lado, certos meios católicos liberais começam, nos últimos anos do regime, a manifestar o seu descontentamento.