A Segunda Guerra Mundial (1939-1945) legou à Europa e ao mundo um cenário de devastação material e humana sem precedentes na contemporaneidade. Os avanços a Leste e a Oeste das tropas alemãs, conduziram a um afluxo de milhares de judeus e não-judeus nos territórios europeus. A fuga prosseguia à medida que os territórios onde se encontravam iam sendo sucessivamente invadidos e ocupados pelos nazis. Neste período, milhares de refugiados chegaram a Portugal e por aí transitaram para os territórios além-mar, sobretudo, para o continente americano. A sua presença não era, todavia, bem aceite pela maior parte dos governos europeus, pois estes viam nos refugiados um inconveniente político e uma ameaça socioeconómica. Portugal não foi exceção. Apesar do clima de hospitalidade, é importante desmistificar a ideia de que Portugal acolheu todos os «indesejáveis» que a Europa violentou e expulsou.
O estudo que aqui se apresenta resulta de uma expressa vontade em recuperar a memória dos refugiados que encontraram nas Caldas da Rainha o seu porto de abrigo, entre os anos de 1940 a 1946. Num momento em que a crise dos refugiados enche as manchetes dos jornais e regressa impetuosamente às agendas europeias e mundiais, considerou-se fundamental fazer emergir das profundezas esse passado tão presente.
As perseguições, a guerra e as dificuldades que experimentaram na sua fuga até conseguirem aportar com segurança nesta cidade portuguesa, bem como as vivências que aí foram desenvolvendo ao longo dos anos, compuseram os alicerces que edificam este trabalho. Procurou-se responder a uma série de perguntas - quem eram? de onde vinham? de que fugiam? como foram recebidos pela população caldense? - de forma a contribuir para a análise da sua presença e do impacto que esta causou na localidade. Uma coisa é certa: nas Caldas, o receio e a desconfiança da circunstância deram lugar ao ânimo e à esperança no futuro.