“Sobre este ensaio
(palavras desnecessárias): Tenho quase oitenta anos. Idade suficiente para
provavelmente, tudo o que é importante já ter sido feito, incluindo a escrita
que iniciada com cerca de 16 anos, nunca ininterruptamente deixei de fazer,
como complemento inseparável da leitura. Uma paixão só.
Este livro que contém
um ensaio e alguns textos que lhe são anexos, seria desnecessário, se não
pensasse que ele é, porventura, o meu melhor ensaio e o seu tema uma inusitada
releitura de um autor que nunca me abandonou, sem no entanto me influenciar na
criação da poesia. Os meus mestres são Camões e os poetas barrocos portugueses.
Mas Fernando Pessoa, ele, andou sempre comigo na totalidade da obra em vários
tipos de verso e em prosa. Sim, da prosa da teoria, porque é na prosa que se
encontram os fundamentos da sua obra poética.
Quem me chamou a
atenção foi Ángel Crespo, quando realizava uma originalíssima compilação de
textos em prosa de Pessoa, por ele traduzidos para castelhano, sobre a noção de
paganismo, fundamentando a invenção dos heterônimos e respectivas obras
poéticas. O que permite, criticamente, dispensar como supérfluas e
superficiais, as já usuais tentativas de explicação psicológica, psicanalítica,
etc., etc, inclusive as dadas, por certo ironicamente, pelo próprio Fernando
Pessoa aos seus contemporâneos.
Só anos mais tarde, já
depois da morte de Ángel Crespo, compreendi a necessidade de estudar os muitos
textos de Pessoa sobre paganismo e neopaganismo, escritos entre 1915 e 1918,
quase todos já publicados, até em edições críticas, mas que praticamente
ninguém ainda estudou seriamente, quanto ao conteúdo teórico e poético, mas
também sociológico e cultural, como eu penso que merecem.
Foi desse trabalho que
ninguém me encomendou, além de mim próprio, que resultou, após alguns anos de
estudo, o ensaio que agora entrego à leitura de quem o desejar ler...
E. M. de Melo e Castro
(São Paulo 2011-02-06)”