Partindo duma situação concreta, e pessoalmente testemunhada, o autor procura sensibilizar a sociedade para um dos maiores e difíceis desafios do nosso tempo, e que por todo o mundo se tem vindo a multiplicar: o autismo. De facto, e durante dez anos, Severino Moreira refugiou-se como que numa subtil purga emocional, redigindo e idealizando enviar cartas a um menino (seu neto), assolado por uma perturbação do espectro autista, talvez assim exercendo a sua própria catarse - esta consabidamente definida como terapêutica psicanalítica para a erradicação dos sintomas…
Por esses textos, foi dando conta das várias vertentes do problema, e consequentemente, das dores e preocupações que naturalmente daí advêm, após um diagnóstico que é obviamente recebido com surpresa, mágoa e estupefacção.
Frisa o autor, todavia, que em nenhum momento o núcleo familiar se permitiu esmagar o futuro por tal facto (obscurecendo-o de tristeza, e sombreando-o de infelicidade), bem pelo contrário: desde a primeira hora considerando o afecto como a mola essencial e transformadora (desde logo para/ e por parte dos pais), esse sentimento vem sendo transversalmente exercido e puramente vivido, a cada passo revelando-se como a chave para se suplantar o peso das perplexidades e a descodificação das interrogações, lembrando e sublinhando, que todos os dias e em todas as situações, vence invariavelmente o amor: o amor que tolera e abre caminhos, o amor que inclui e compreende, o amor que perdoa e aceita, o amor que se apaixona e se torna cúmplice, o amor que não se fatiga nunca e tudo vence.