O comandante da Marinha Ernesto Jardim de Vilhena (1876-1967) foi o mais importante colecionador de arte em Portugal na primeira metade do século XX e os núcleos da coleção, alienados após a sua morte, persistem como referências no património nacional português. Em 1969, através da aplicação de mecanismos que prefiguraram a dação em pagamento, 1500 esculturas foram doadas ao Estado pelos herdeiros e incorporadas no Museu Nacional de Arte Antiga, o que resultou na alteração da identidade da histórica coleção museológica retratada neste trabalho.
A narrativa parte da biografia cultural dos objetos artísticos para apresentar o perfil de Ernesto de Vilhena e o seu modo de colecionar, desvendando a aura que o transformou numa personagem mítica. Senhor de uma fortuna adquirida na gestão colonial, dedicou toda a energia a construir o programa científico de uma empresa colecionista com o objetivo de criar um feito memorável para Portugal, imbuído do valor de resgate da sua história, desenvolvendo um método que o diferenciou dos outros colecionadores por refletir o seu singular entendimento da história da escultura e do património nacionais.
Do território onde foi coligida, a escultura passou à Casa Vilhena e dali para o Museu Nacional de Arte Antiga, no decurso de um resgate inédito na história do património cultural português sob tutela do Estado. Com a crónica da doação dos herdeiros de Vilhena fecha-se o círculo e completa-se a ambição do colecionador, fazendo retornar as esculturas ao domínio público da arte e da história portuguesas.