Estica a mão ensanguentada na direção dos vultos, lutando contra a dor dilacerante e contra a escuridão que começa a sobrepor-se a todas as luzes.
O movimento parece resultar, porque os vultos aproximam-se e agarram-no, no mesmo instante em que a escuridão se abate inteira sobre si.
Ao longo da curta vida que lhe resta, voltará a sentir a luz da consciência apenas duas vezes: uma, quando despertar no interior do seu carro numa ribanceira da autoestrada, onde sentirá o avolumar do desespero segundo a segundo, até perder de novo os sentidos. Outra, no interior da ambulância onde, confusa e intermitentemente, sentirá tubos, máscaras e seringas a serem colocados e inseridos em si, ecos de sirenes, barulhos de vozes e bips de máquinas.
Depois aproximar-se-á inevitavelmente do fim e mergulhará definitivamente na luz.