«V. retornar com a certeza do retorno é um movimento interno violento que castra qualquer liberdade. no jornal havia algo sobre o reverso dos movimentos migratórios pelo mundo, tive a sensação de me aproximar mais de meu avô, que nasceu e morreu sem tentar, numa mesma vida e nem por isso foi um só.»
Nas "rachaduras das solas duras" dos pés de um avô morto, "de cima de suas nove décadas", é que o poeta Tiago D. Oliveira tece a sua reflexão sobre a trama da existência. Tiago D. Oliveira explica desde o primeiro verso desta sua obra, o seu mote: é pelos pés de meu avô que entendo a vida.
Desse modo, é através de "um memorial em torno do pé" nas palavras de Clarisse Macedo, que o poeta narra a história da sua linhagem, fundada nas raízes personificadas pelas solas da ancestralidade: as rachaduras nas solas duras de meu avô/ escreveram estas palavras também.
Entre Lisboa e o Sertão, viagens de ida e de volta, "o poeta tece a sua reflexão sobre a trama da existência", repara Itamar Vieira Junior.
As Solas dos Pés do Meu Avô, publicado no Brasil em 2019 e finalista do Prémio Oceanos 2020, é um livro que evoca a experiência do fim, o ritual religioso, a fé, o povo e tudo o que este abarca.
Nas palavras de Itamar Vieira Júnior, neste livro de poesia As Solas dos Pés do Meu Avô muitas vidas irão despontar da pele ressequida destes pés - as dos ascendentes e descendentes, tendo sempre a paisagem da Terra, não como mero palco dessa jornada humana, mas como uma personagem prenhe de vida, seja a cidade, Lisboa, ou o Sertão profundo. O gado, a água, as ruas, a casa e a religiosidade são elementos que compõem a seiva perene que alimenta nossos corpos desde a raiz.
Com prefácio da doutora Clarissa Macedo e posfácio do escritor Ronaldo Cagiano, percebemos que ao ler esta obra que toca a imensidão de nós mesmos, constatamos que todos surgimos, de uma forma ou de outra, do caminhar dos que nos antecederam.