Obras fundadoras da literatura ocidental, Ilíada e Odisseia são muito mais do que poemas épicos que narram a história da guerra de Troia ou do retorno de Ulisses a sua terra natal. Elas são a origem de um enorme repertório mítico que, avançando nos séculos, desempenha até os dias de hoje um importante papel no imaginário e na cultura do ocidente.
A Ilíada parece consistir, pelo título, apenas de um breve incidente ocorrido no cerco dos gregos à cidade troiana de Ílion, a crônica de aproximadamente cinquenta dias de uma guerra que durou dez anos. No entanto, graças à maestria de seu autor, essa janela no tempo se abre para paisagens vastíssimas, repletas de personagens e eventos. É nesse épico homérico que surgem figuras como Páris, Helena, Heitor, Ulisses, Aquiles e Agamêmnon, e em seus versos somos transportados diretamente para a intimidade dos deuses, com suas relações familiares complexas e às vezes cômicas.
Odisseia, por sua vez, se tornou também um substantivo comum, que denomina jornadas marcadas por perigos e eventos inesperados, e “homérico” um adjetivo usado para relatar feitos grandiosos, como o regresso de Ulisses a sua terra natal.
O enredo pode ser resumido em poucas palavras. Em seu tratado conhecido como Poética, Aristóteles escreve: “Um homem encontra-se no estrangeiro há muitos anos; está sozinho e o deus Posêidon o mantém sob vigilância hostil. Em casa, os pretendentes à mão de sua mulher estão esgotando seus recursos e conspirando para matar seu filho. Então, após enfrentar tempestades e sofrer um naufrágio, ele volta para casa, dá-se a conhecer e ataca os pretendentes: ele sobrevive e os pretendentes são exterminados”.
Minuciosamente traduzidos pelo renomado helenista Frederico Lourenço, que também verteu para o português a primeira edição completa da Bíblia grega, estes livros são acompanhados ainda de esclarecedores textos introdutórios, listas de personagens e mapas que ajudam a compreender a complexa geografia homérica.