“A história deste regresso da Cinemateca a Ozu é a história de uma já longa conversa entre as artes. Quinze anos depois de um ciclo, um livro e uma exposição que tomavam como ponto de partida o «Ordet» de Dreyer, e treze anos depois de um tríptico semelhante inspirado pelo «Pickpocket» de Bresson, o que agora se concretiza é mais um desses diálogos, feito de reiterações e variações. A invariante foi a poesia de João Miguel Fernandes Jorge, desafiador, quando não gostosamente desafiado, que deitou a mão ao que acredito ser um dos conjuntos de textos originais editados por esta casa que mais virão a resistir ao tempo, e que esteve ainda por trás das associações aos outros artistas expostos nos nossos espaços e reproduzidos nos três livros. A variação foi então a das outras matérias artísticas convocadas para cada um destes encontros com o cinema e a literatura – a pintura de José Loureiro, no caso de Dreyer, a escultura de Rui Chafes, no caso de Bresson, e, de novo, o trabalho de um pintor, Rui Vasconcelos, na revisitação de Ozu. Finalmente, a conversa incluiu a participação de Rita Azevedo Gomes, a quem se deve a escolha e reprodução dos fotogramas publicados, a organização e montagem das exposições e a concepção (desenho gráfico) dos livros. Ao cinéfilo, não escapará, neste caminho feito com os três realizadores, o facto de se tratar precisamente do trio em que Paul Schrader baseou a sua análise do “estilo transcendental no cinema” («Transcendental style in cinema: Ozu, Bresson, Dreyer», publicado em 1972).”
APRESENTAÇÃO, José Manuel Costa