O Instituto para o Acerto dos Relógios é, ainda hoje, um dos mais importantes — e mais complexos — romances turcos. O livro é uma brilhante alegoria da colisão entre tradição e modernidade, entre Oriente e Ocidente. Tanpinar recorre ao absurdo, ao cómico, à sátira, para explorar a turbulenta e radical transição da Turquia otomana, dos sultões, para a sociedade moderna, forçosamente europeia, engendrada por Ataturk — e por todas as implicações culturais que daí advieram.
No centro do romance encontramos Hayri Irdal, um anti-herói cuja vida parece estar desde sempre cativa de relógios, que constantemente se envolve com excêntricas personagens e que acaba por ajudar a criar uma vasta organização que tem por principal objectivo acertar, e fiscalizar, todos os relógios da Turquia.
O Instituto que Irdal ajuda a criar remete para a medida de Ataturk, que em 1926 adoptou o calendário gregoriano, promovendo a construção de torres de relógio um pouco por todo o país, numa época em que a chamada para as orações ou a simples posição do sol eram suficientes para medir o tempo. A precisão das horas e a pontualidade surgiam naturalmente associadas a conceitos modernos, como produtividade económica e rentabilidade.
«Ahmet Hamdi Tanpinar é sem dúvida o mais notável autor da literatura turca moderna. Com O Instituto para o Acerto dos Relógios, este grande escritor criou uma obra-prima alegórica, que torna as tentativas de ocidentalização da Turquia e a sua modernidade atrasada compreensíveis em todas as suas ramificações humanas.»