Este livro apresenta os resultados de um estudo, realizado na perspectiva da sociologia da ciência, sobre a obra e o trajecto académico-profissional do economista John Kenneth Galbraith. Autor, entre outros trabalhos, de American Capitalism (1952), The Affluent Society (1958), The New Industrial State (1967) e Economics and the Public Purpose (1973), quatro livros que, quando foram publicados, suscitaram muito interesse e forte polémica dentro e fora do universo dos economistas, John Kenneth galbraith distinguiu-se pelas críticas com que fustigou a economia de tradição clássica e a sabedoria convencional a ela associada, bem como pelas originais propostas de caracterização das sociedades de capitalismo industrial avançado que formulou.
Destacam-se, neste âmbito, as considerações que desenvolveu sobre riscos ambientais associados ao crescimento económico, sobre o desequilíbrio entre provisão privada e provisão pública de bens e serviços instalado nas economias contemporâneas, sobre a dependência face às exigências do complexo militar-industrial a que o capitalismo terá progressivamente cedido, sobre a tendência do pensamento dominante para desvalorizar ou elidir a contribuição das mulheres no processo de desenvolvimento, sobre, enfim, as nefastas consequências sociais induzidas pela reprodução de fortes desigualdades na distribuição de rendimentos.
Tendo muitas das interpretações e propostas políticas elaboradas por Galbraith nas referidas obras deixado de suscitar, nas décadas posteriores à sua publicação, o interesse antes alcançado (um facto que, por sua vez, será imputável quer à mudança de rumo assumida, entretanto, pelo corpo de ideias económicas dominante, quer ao tipo de relacionamento que o economista foi mantendo com a esfera política e outras instâncias não-académicas), a verdade é que elas readquirem, nos tempos que correm, notória pertinência.
Para tentar restituir a especificidade do pensamento galbraithiano e o lugar que este foi ocupando no campo da Economia, deu-se atenção, ao longo do livro, às origens familiares, ao percurso escolar e a outros elementos biográficos que terão estado na génese dos conceitos e disposições crítico-reflexivas interiorizados por John Kenneth Galbraith no início da carreira; mas foram tidas igualmente em conta a estrutura, as grandes tendências de desenvolvimento e as conjunturas críticas de múltiplos sistemas de relações intelectuais, institucionais e sociais que, ao longo do passado século, intervieram (tantas vezes sob a forma de lutas entre posições instituídas, insurgentes, dominadas ou tão só emergentes) na configuração dos mundos académico, profissional e político com que Galbraith se cruzou.