No ínicio dos anos 60, em pleno século XX, o furor dos expressionistas abstractos que dominara a cena do decénio anterior, extingue-se de repente. Em vez de grandes telas cobertas raivosamente de tinta, surgem imagens retiradas do mundo ""popular"", desde a banda desenhada até aos géneros alimentícios vendidos nos supermercados. Passa-se, portanto, da exibição da complexa interioridade do artista para a reprodução do quotidiano óbvio, não reinterpretado, não filtrado, apenas confirmado na repetição mais ou menos fiel.
Ainda antes desta tendência se afirmar nos E.U.A, já os artistas ingleses se inspiram na sociedade de consumo, nos seus símbolos e ritos quotidianos, e, em 1952, forma-se, no seio do Institute of Contemporary Art de Londres, o ""Independent Group"", constituído por artistas, arquitectos e críticos. Em 1956, Richard Hamilton (1922) figura, ao lado de Peter Blake (1932), David Hockney (1937) e Allen Jones (1937), entre os principais representantes de pop art inglesa. A sua colagem intitulada «Just what is it that makes today’s homes so different, so appealing?», que pretende questionar a originalidade das casas modernas, mostra a sala de estar de um apartamento repleto, ou melhor, a abarrotar de produtos da sociedade de consumo: o gravador, a televisão, o aspirador, e mesmo a pin up e o culturista, que segura um gigantesco chupa-chupa Pop. O sense of humor de Hamilton é requintadamente inglês; enquanto os artistas pop americanos recorrem a uma linguagem mais directa, por vezes mesmo brutal, os ingleses recorrem a processos subtis e provocatórios. As referências ao sexo e ao erotismo também são mais sarcásticas nas obras dos artistas britânicos: em Hatstand, Table, Chair (1969), Allen Jones utiliza manequins femininos idênticos colocados em diferentes poses, para denunciar a condição de mulher-objecto, as perversões sado-masoquistas e o kitsch potencialmente presente em todas as práticas quotidianas.
Nos E.U.A. Andy Warhol (1928 – 1987) repete a imagem de um produto sempre presente na despensa de qualquer família americana média, as latas de sopas Campbell, ou alinha caixas de detergente Brillo, como se estivessem na prateleira de um supermercado, sem revelar qualquer ironia, mas refletindo apenas os gostos e os hábitos alimentares predominantes na sociedade americana do seu tempo. É com o mesmo desencanto que Warhol olha para um objecto ou para uma personagem famosa, ""consumida"" através da imprensa ou da televisão como um produto comestível. Um aspecto mais lúdico caracteriza as obras de Roy Lichtenstein (1923-1997), que reproduz, ampliando-os, excertos de banda desenhada: os heróis e as heroínas, retirados do contexto original, surgem como figuras muito mais improváveis. Como improváveis acabam por ser os objectos supra-dimensionados de Claes Oldenburg (1929): um interruptor construído em material mole, uma colher de pedreiro monumental, hambúrgueres, tortas e alimentos vários em matéria plástica e de cores berrantes. Os nus de Tom Wesselman (1931) provocam efeitos paródicos: uns põem em evidência os seios, a púbis e os lábios; outros reproduzem maliciosamente as pin up dos cartazes publicitários.