«Quando entro em desespero, lembro-me de que, ao longo da história, a verdade e o amor venceram sempre. Houve tiranos e assassinos que, durante algum tempo, pareceram invencíveis, mas que, no final, foram derrotados.»
Esta obra, escrita a partir de 1925, quando Gandhi estava na prisão, é um extraordinário relato da sua demanda moral e espiritual; é de um inestimável valor pela forma como relata o moldar de um novo caminho de resistência passiva face às injustiças do mundo.
Não é uma autobiografia no sentido convencional do termo, mas uma exploração da alma de um homem, um retrato de Gandhi como se via a si mesmo e um apelo a todos para aprenderem com os seus erros e partilharem as suas descobertas.
No legado de Gandhi destacam-se três aspetos fundamentais: a crença inabalável de que todos podemos moldar e guiar as nossas vidas segundo os mais elevados princípios e ideais, por mais insignificantes e desprotegidos que sejamos, a oposição determinada a todas as formas de intolerância social, étnica e religiosa, a convicção de que não adiantam os princípios de não-violência e justiça na vida pública quando cada um de nós os não aplica na sua vida privada.
A sua história, o caminho para a sua visão da dignidade humana, é um marco intemporal do século XX, bem como a sua coragem e inspiração. Esta autobiografia é uma verdadeira porta para a sua mente, uma abertura para a compreensão do caminho que conduziu este homem, aparentemente comum, a ser considerado «o pai» da Índia.
Mohandas K. Gandhi foi um homem fascinante e complexo, um líder e um guia brilhante, um buscador da verdade que morreu pelas suas crenças, mas não gostava do martírio nem da santidade.
Gandhi fez da verdade rigorosa uma religião. Aqui, descreve-nos a sua infância em Gujarat, o casamento aos 13 anos, os estudos jurídicos em Inglaterra e um desejo crescente de pureza e reforma. Relata a sua gradual conversão ao vegetarianismo e à ahimsa (não-violência), e ao estado de celibato brahmacharya (autocontrolo) que se tornou uma das suas mais árduas provações espirituais.
No domínio político, percorre o início do Satyagraha, o movimento de protesto não violento de Gandhi (satya = verdade, agraha = firmeza), que se tornou, tal como o seu criador, um princípio moral e um grito de guerra.
O impacto deste legado nos grandes movimentos sociais e políticos do século XX, a forma avassaladora como tantas vezes foi desrespeitado não podiam estar presentes no espírito de Gandhi quando escreveu este testemunho ímpar, mas por certo tornam imprescindível para a compreensão do mundo em que vivemos a edição desta obra