«Aqui, no deserto, encontrara tudo aquilo que procurava e sabia que jamais encontraria o mesmo outra vez. Mas não era só esta mágoa pessoal que me angustiava. Apercebia-me de que os Bedu com quem vivera e viajara, e em cuja companhia encontrara satisfação, estavam condenados. Algumas pessoas defendem que eles terão um melhor nível de vida quando substituírem a dureza e a pobreza do deserto pela segurança de um mundo materialista. Eu não acredito nisto. Recordar-me-ei sempre das frequentes vezes em que me sentira humilhado por aqueles pastores iletrados, que possuíam, em muito maior grau do que eu, generosidade e coragem, capacidade de resistência, paciência e serena galanteria. Nunca no meio de qualquer outro povo senti a mesma percepção de inferioridade pessoal.»
Nascido em Adis Abeba, Abissínia (actual Etiópia), em 1910, Wilfred Thesiger alistou-se em 1935 no Serviço Político do Sudão depois de frequentar Eton e Oxford. Com o início da Segunda Guerra Mundial foi destacado para as forças de defesa locais e mais tarde prestaria serviço com os S.A.S..
Desde o início daquele conflito que se tornou num viajante incansável, percorrendo, a pé ou transportado por animais, o sul da Arábia, o Curdistão, as planícies aluviais do Iraque, as cordilheiras centro-asiáticas do Hindukush e do Caracórum, Marrocos, a Etiópia, o Quénia e Tanganica.
Em Pelos Desertos das Arábias, Thesiger relata-nos as suas andanças por vários territórios e Estados da península arábica, nos anos de 1945 a 1950, quando a febre do petróleo ainda não destruíra a vida comunitária e errante dos beduínos. São essas memórias distantes de um mundo hoje desaparecido, sem cidades modernas, veículos todo-o-terreno ou monarquias milionárias, que o autor aqui evoca, num registo verosímil e sedutor.
